Escrito por Ricardo Holland
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O homem
moderno arcaico segundo a Psicologia Analítica
A
manifestação mais contundente da doença do ser humano, da separação de si
mesmo, é a aceitação nos seus valores sociais, morais e éticos, a matança
coletiva a que inclusive é justificada por entidades que representam o sagrado,
religioso. Esta é a manifestação clara do lado doente do ser humano e da
separação da sua essência.
Os conflitos
entre as diferentes sociedades, mal se podem solucionar com violência, para
isso deve-se procurar qualquer meio para encontrar a harmonia através de um
consenso, através da palavra.
É
preocupante que o ser humano após tantos séculos e vários milénios não aprenda
das consequências nefastas e trágicas das guerras que provoca.
A psicologia
analítica trata de explicar este fenómeno indicando como funciona a mente
arcaica. Jung ditou uma conferência no círculo de leitores Hottingen em Zürich
no ano de 1930 onde fala sobre o homem arcaico, baseando-se na teoria do famoso
sociólogo Lévy-Bruhl, cujo conceito fundamental são as "representações
coletivas". Pág. 68 Tomo X das obras completas de C. G. Jung.
Este conceito refere-se à maneira que vê o
homem arcaico no seu meio, uma realidade muito diferente à do homem moderno, o
qual para entender qualquer fenómeno baseia-se numa explicação "Causalista".
O homem arcaico em mudança vive num mundo muito diferente ao do homem moderno.
Quando algo
na vida do homem arcaico muda, por exemplo com o aparecimento de um fenómeno
natural diferente, como um eclipse, um cometa, quando um animal noturno é visto
de dia, etc., é para ele uma manifestação de uma força todo-poderosa que quer
romper a ordem natural do seu mundo. Este homem procura constantemente
reafirmar-se na continuidade dos fenómenos naturais mas, quando isto não sucede
começará a realizar associações que de uma maneira a-causal, não racional,
explicarão desde o ponto de vista da magia o problema. A solução para retornar à
normalidade será a realização de ritos, oferendas, atos mágicos. Na idade média
era comum este tipo de reações o fazedor de
chuvas, ou quando o inverno durava mais que o devido eram culpadas grupos de
mulheres e queimadas na fogueira acusadas de bruxaria, etc.
Levy-Bruhl
fala da "participação mística", a matéria tem alma, em cada gruta
vive o demónio, nos bosques os espíritos, em cada montanha a grande serpente,
cada árvore tem uma voz que chama às pessoas, o psíquico ocorre fora dele. Não
há separação entre o inconsciente e a realidade externa. Trata-se de uma projeção
psíquica para o exterior.
No homem
moderno, num lado profundo da sua psique ainda vive o arcaico. Na guerra sucede
um processo similar. Quando se dá uma transformação externa do seu meio, o
homem moderno perde o sentido racional que ajudar-lhe-ia a procurar um
entendimento causal do problema. Faz uma regressão ao seu nível arcaico e
adere-se aos argumentos coletivos que justificam a um nível causal a matança
coletiva, com argumentos mágicos mas sem nexo com a realidade.
O grande
problema estriba em que o ser humano quando caia no seu nível arcaico, use a
força a cada vez mais mortífera da tecnologia avançada do homem moderno para
solucionar os seus conflitos.
Hoje em dia o ser humano tem que crescer como indivíduo, crescer em seu essência e não se deixar alienar pelo coletivo. Deverá crescer com responsabilidade pessoal, sem seguir à cega os sistemas obsoletos sociais.
Um dos
fundamentos da vida é que a essência se manifeste no mundo. Uma vez que o homem
moderno contacte com seu lado secreto e profundo será impossível que seja um
participante ou espectador mudo das atrocidades e guerras que se cometam no nosso
querido planeta.
Terá que rejeitar
de forma ativa, menosprezando qualquer manifestação de violência e destruição.
As guerras que existem dentro de nós são as que são exorcisadas na violência colectiva da tribo. Os chimpanzés também o fazem. Talvez haja algo de genético nisto. No dia 30 de Dezembro morreu-me a minha gatinha Rebeca, depois de uma semana no veterinário a recuperar de uma queda do alto da varanda de um sexto andar. Depois de operada pareceu recuperar bem e tanto o veterinário como eu estàvamos esperançosos. Porém, nesse dia e uma semana depois a gatinha sossobrou para meu enorme desgosto e também das minhas filhas. Fomos enterrá-la no campo com a dignidade e o carinho que nos merecia. Entre sentimentos de culpa, pois na verdade não deveria ter dado à gatinha acesso à varanda, tendo eu escolhido esse acesso como espaço possivel de liberdade a que o animal tinha direito, acima de qualquer perspectiva doméstica, lembrei-me, entre outras coisas, do que um certo psicólogo famoso disse àcerca da nossa relação com os animais de companhia. Dizia ele que o que distingue a nossa relação com os humanos e com os animais é que a nossa relação com estes últimos nunca é ambivalente. E tinha razão.
AntwortenLöschenPenso também que os animais limpam as nossas guerras interiores. Induzem-nos paz. Por isso transferimos para eles uma boa parte dos nossos afectos.
Ernesto