Montag, 7. Mai 2018

Progressão ou regressão? A dicotomia da psicologia clínica hospitalar




É interessante levar em conta que existem dois tipos de abordagens no trabalho psicológico: ligados ao conflito ou relacionados à estrutura do paciente.

De acordo com a abordagem que o psicólogo adotará, uma constelação terapêutica específica será dado. Quando eu trabalhava numa clínica psiquiátrica, psicossomática de problemas psíquicos  "agudos" (Psychiatrische Psychosomatische Akutklinik) num local idílico da Alemanha, na Floresta Negra, dava-se a entender aos  psicólogos que não devíamos trabalhar conflitualmente  mas sim estruturalmente com os pacientes. O slogan dos chefes médicos com formação psiquiátrica parecia que temiam que o paciente que chegava a clínica num estado agudo de descompensação, piorasse mediante a aplicação de uma terapia psicodinâmica, com o medo de que mesmo com o uso de psicofármacos não o ajudasse a sair da sua regressão, devido a um emaranhamento das terapias aplicadas.

Existem vários aspetos que devemos considerar quando um paciente chega à nossa terapia no hospital. Devemos primeiro avaliar a gravidade dos seus sintomas, esclarecendo assim, o estado de descompensação psíquica, considerando ou excluindo as tendências latentes ou conscientes do suicídio.

É importante entender o problema atual que desencadeou a crise interna, por isso fazemos uma anamnese, vemos suas características psicopatológicas, consideramos queixas atuais, planeamos a terapia e justificamos a importância do seu internamento. O atendimento hospitalar na Alemanha é gratuito, no entanto, os requisitos para justificá-lo são claros e contundentes. "O paciente deve estar num estado tão profundo de descompensação" que todas as medidas ambulantes, por essemplo  a terapia psicológica individual, já foram esgotadas para justificar o seu internamento.
Apesar da rejeição  a terapia conflituante  das clínicas, eu acho que,  quando o psicólogo tenha conhecimento claro da " psicodinâmica do paciente ",  será possível trabalhar com a abordagem psicodinâmica, mesmo que o paciente se encontre num estado de descompensação profunda. Caso contrário, cair-se-ia no erro de reduzir o tratamento hospitalar a um tratamento meramente farmacológico e biológico.

Tendo em conta que a estadia tem uma média de três meses, o número mínimo seria de 30 terapias individuais; com uma multidimensionalidade de tratamentos, tais como os realizados por terapeutas da arte, música, corpo, acupuntura e disciplinas de relaxamento tais como: QI Gong, Taichi, Meditação, AutogenesTraining, etc., é possível abordar o conflito do paciente, isto é, o lado do seu inconsciente.

O paciente sente-se no direito de exigir da sua estadia na clínica, de não só querer ser estruturado, estabilizado, mas também poderia exigir  alcançar um estado diferente de consciência, descobrindo assim o  lado profundo de si mesmo que lhe permitisse tornar consciente os aspetos próprios  , "seu lado inconsciente exposto a descompensar diante de situações externas específicas", bem como "a sua capacidade de se confrontar com essas situações difíceis" ou evitá-las a tempo. (deficiências e recursos).
Para alcançar este processo, a terapia psicodinâmica é sine qua non.
A medida exageradamente cautelosa do médico chefe do hospital é baseada no risco que envolve esse caminho, que se agrava quando o psicólogo não reconhece o processo psíquico do paciente. Apareceria simbolicamente,  como se o paciente estivesse num labirinto escuro e seu terapeuta o guiasse sem saber em que direção estava a saída.


O ponto primordial da terapia é entender o processo psicodinâmico do paciente, mas, apesar de ser indispensável e muito importante, não se chegara a meta sem o uso adequado dos mecanismos de "transferência e contratransferência". O psicólogo deve estar dotado de uma enorme capacidade e sensibilidade empática que lhe permita abordar o paciente com  respeito e engajamento. De acordo com o grau de alteração psíquica do paciente, seja uma disposição da neurose ou uma deficiência grave da Estrutura de sua personalidade, o terapeuta debe ter a capacidade de  conter os desvios labirínticos do paciente (Containing). Isto  é muito importante primeiro para elabora-los e depois  transmiti-los de volta  ao paciente de uma forma construtiva durante o processo psicoterapêutico.

O caminho que será exigido ao paciente, deve ser dosificado em pequenos passos, de acordo com a  capacidade de assimilação da sua consciência, a fim de evitar regressões desnecessárias.

O psicólogo que trabalhe numa clínica deve ter a competência  de realizar uma terapia tanto estrutural como conflitual. Os dois sistemas devem andar de mãos dadas, na medida em que o paciente faça uma regressão interior, simultaneamente logre uma progressão exterior. Ao confrontar seus conflitos dolorosos interiores, deveria sentir-se ao mesmo tempo mais seguro de si mesmo. Portanto, é importante que o médico farmacologista adote uma atitude de confiança no processo terapêutico outorgando á terapia um espaço que permita no seu processo,   a regressão transitória que se transformara em pouco tempo numa progressão, isenta  do perigo da descompensação.


No final da estadia, o que seria definido como uma terapia bem-sucedida é o sentimento que permite ao paciente levar consigo para casa, o sentimento de maior confiança, junto e devido a uma melhor compreensão de si mesmo.

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