É interessante levar em conta que existem
dois tipos de abordagens no trabalho psicológico: ligados ao conflito ou
relacionados à estrutura do paciente.
De acordo com a abordagem que o psicólogo adotará,
uma constelação terapêutica específica será dado. Quando eu trabalhava numa
clínica psiquiátrica, psicossomática de problemas psíquicos
"agudos" (Psychiatrische Psychosomatische Akutklinik) num local idílico da Alemanha, na Floresta Negra, dava-se a entender aos
psicólogos que não devíamos trabalhar conflitualmente mas sim
estruturalmente com os pacientes. O slogan dos chefes médicos com formação
psiquiátrica parecia que temiam que o paciente que chegava a clínica num
estado agudo de descompensação, piorasse mediante a aplicação de uma terapia
psicodinâmica, com o medo de que mesmo com o uso de psicofármacos não o ajudasse a
sair da sua regressão, devido a um emaranhamento das terapias aplicadas.
Existem vários aspetos que devemos considerar
quando um paciente chega à nossa terapia no hospital. Devemos primeiro avaliar
a gravidade dos seus sintomas, esclarecendo assim, o estado de descompensação
psíquica, considerando ou excluindo as tendências latentes ou conscientes do
suicídio.
É importante entender o problema atual que
desencadeou a crise interna, por isso fazemos uma anamnese, vemos suas
características psicopatológicas, consideramos queixas atuais, planeamos a
terapia e justificamos a importância do seu internamento. O atendimento
hospitalar na Alemanha é gratuito, no entanto, os requisitos para justificá-lo
são claros e contundentes. "O paciente deve estar num estado tão profundo
de descompensação" que todas as medidas ambulantes, por essemplo a terapia psicológica individual,
já foram esgotadas para justificar o seu internamento.
Apesar da rejeição a terapia conflituante das clínicas, eu acho que, quando o psicólogo tenha conhecimento
claro da " psicodinâmica do paciente ", será possível trabalhar com a
abordagem psicodinâmica, mesmo que o paciente se encontre num estado de
descompensação profunda. Caso contrário, cair-se-ia no erro de reduzir o tratamento
hospitalar a um tratamento meramente farmacológico e biológico.
Tendo em conta
que a estadia tem uma média de três meses, o número mínimo seria de 30 terapias
individuais; com uma multidimensionalidade de tratamentos, tais como os
realizados por terapeutas da arte, música, corpo, acupuntura e disciplinas de
relaxamento tais como: QI Gong, Taichi, Meditação, AutogenesTraining, etc., é
possível abordar o conflito do paciente, isto é, o lado do seu inconsciente.
O paciente sente-se no direito de exigir da sua
estadia na clínica, de não só querer ser estruturado, estabilizado, mas também poderia exigir alcançar um estado diferente de consciência, descobrindo assim o lado
profundo de si mesmo que lhe permitisse tornar consciente os aspetos
próprios , "seu lado inconsciente exposto a descompensar diante de
situações externas específicas", bem como "a sua capacidade de se
confrontar com essas situações difíceis" ou evitá-las a tempo.
(deficiências e recursos).
Para alcançar este processo, a terapia
psicodinâmica é sine qua non.
A medida exageradamente cautelosa do médico chefe
do hospital é baseada no risco que envolve esse caminho, que se agrava quando o
psicólogo não reconhece o processo psíquico do paciente. Apareceria simbolicamente, como se o paciente estivesse num labirinto escuro e seu terapeuta o guiasse sem saber em que direção estava a saída.
O ponto primordial da terapia é entender o
processo psicodinâmico do paciente, mas, apesar de ser indispensável e muito
importante, não se chegara a meta sem o uso adequado dos mecanismos de
"transferência e contratransferência". O psicólogo deve estar dotado
de uma enorme capacidade e sensibilidade empática que lhe permita abordar o
paciente com respeito e engajamento. De acordo com o grau de alteração
psíquica do paciente, seja uma disposição da neurose ou uma deficiência grave da Estrutura de sua personalidade, o terapeuta debe ter a capacidade de conter os desvios
labirínticos do paciente (Containing). Isto é muito importante primeiro para elabora-los e depois transmiti-los de volta ao paciente de uma forma construtiva durante o processo
psicoterapêutico.
O caminho que será exigido ao paciente, deve ser dosificado em pequenos passos, de acordo com a capacidade de
assimilação da sua consciência, a fim de evitar regressões desnecessárias.
O psicólogo que trabalhe numa clínica deve ter a
competência de realizar uma terapia tanto estrutural como conflitual. Os dois
sistemas devem andar de mãos dadas, na medida em que o paciente faça uma
regressão interior, simultaneamente logre uma progressão exterior. Ao
confrontar seus conflitos dolorosos interiores, deveria sentir-se ao mesmo tempo mais
seguro de si mesmo. Portanto, é importante que o médico farmacologista adote
uma atitude de confiança no processo terapêutico outorgando á terapia um espaço que permita no seu processo, a regressão transitória que se transformara em pouco tempo numa
progressão, isenta do perigo da descompensação.
No final da estadia, o que seria definido como uma
terapia bem-sucedida é o sentimento que permite ao paciente levar consigo para
casa, o sentimento de maior confiança, junto e devido a uma melhor compreensão
de si mesmo.